Material do CineCERCO
Uma vez por semana, o CineCERCO debate, de forma remota, um filme e um pequeno texto de natureza filosófica. Os debates ocorrem em nosso grupo de whatsapp e, também, em uma reunião online - sempre às quartas-feiras, a partir das 18h. Pedimos que os membros do grupo vejam o filme e leiam o texto ANTES da reunião online, para que possa aproveitar melhor a discussão! Interessados em participar de nossas reuniões devem entrar em contato pelo e-mail cercofnd@gmail.com
1º MÓDULO
6 de maio - 'Sócrates', de Roberto Rosselini - juntamente com o texto 'Críton', de Platão
13 de maio - 'O nome da rosa', de Jean-Jacques Annaud - juntamente com o texto 'Guilherme de Ockham e a ruptura da tradiçãopolítica medieval', de José Carlos Estevão
20 de maio - 'Dias de Nietzsche em Turim', de Júlio Bressane - juntamente com os textos 'Moral como contranatureza' e 'Os melhoradores da humanidade', de Nietzsche
27 de maio - 'Hannah Arendt', de Margarethe von Trotta - juntamente com o texto 'Martin Heidegger faz 80 anos', de Hannah Arendt (PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE VINÍCIUS BALESTRA)
Em seu primeiro módulo - entre os dias 6 e 27 de maio -, o CineCERCO percorreu, por meio de filmes, a história da filosofia ocidental. Começamos debatendo o pensamento grego, a partir do filme 'Sócrates', de Roberto Rosselini (bem como do texto 'Críton', de Platão). A decadência do império ateniense, após a Guerra do Peloponeso, leva Sócrates a se questionar sobre os fundamentos em que a vida política da pólis se sustentava. A mera opinião infundada (fake news) pode servir como base para um projeto político consistente? É essa a questão subjacente à trajetória de Sócrates. Mostrando que as grandes "autoridades" exaltadas pela opinião pública de Atenas eram, na verdade, impostores, Sócrates coloca-nos face ao desafio de examinarmos nossas próprias posições. O filme de Rosselini - feito para a televisão italiana -, centrado no ciclo da morte de Sócrates, é um ótimo ponto de partida para que reflitamos sobre esses elementos.
Após 'Sócrates', discutimos 'O nome da rosa', película de Jean-Jacques Anoud baseada no livro homônimo do escritor italiano Umberto Eco. Juntamente com o filme, tratamos do texto 'Guilherme de Ockham e a ruptura da tradição política medieval', de José Carlos Estevão. O pensamento medieval adaptou a filosofia greco-romana, compatibilizando-a a uma cosmovisão bíblico-cristã. 'O nome da rosa' aponta para as tensões decorrentes desse esforço de ajustamento. Trabalhando para solucionar uma série de homicídios ocorridos em uma abadia beneditina, o monge franciscano Guilherme de Baskerville - uma mistura de Guilherme de Ockham e Sherlock Holmes (o protagonista de 'O cão dos Barskerville) - aplica métodos de investigação empírica. Guilherme de Baskerville é nominalista (corrente filosófica surgida na Baixa Idade Média, em contraposição à doutrina de Tomás de Aquino), o que implica dizer o raciocínio por indução assume uma posição especial em suas reflexões. O choque entre as opiniões de Baskerville e dos religiosos ao seu redor (ainda aferrados em uma concepção tomista da realidade) ilustram maravilhosamente os conflitos que dominavam a filosofia europeia dos séculos XIII e XIV.
O próximo filme discutido pelo CineCERCO foi 'Dias de Nietzsche em Turim', do cineasta brasileiro Júlio Bressane (em paralelo com os aforismos 'Moral como contranatureza e 'Os melhoradores da humanidade', que Nietzsche publicou em 'Crepúsculo dos ídolos'). Bressane é um dos grandes nomes do Cinema Marginal, e se notabilizou por filmes que se recusam a assumir uma estrutura narrativa convencional. É cinema de poesia, não de prosa (para valermo-nos das categorias defendidas por Pier Paolo Pasolini). 'Dias de Nietzsche em Turim' se baseia nas cartas que o filósofo alemão escreveu, em seus últimos momentos de sanidade, e força-nos a repensar a relação entre razão e loucura, o "apolíneo" e o "dionisíaco". Ponto de inflexão entre a filosofia moderna (hiperracionalista) e a filosofia contemporânea (perspectivista, historicista, cética face à tecnociência), Nietzsche é o filósofo que mais ardorosamente defendeu o potencial emancipatório e libertador da loucura orgiástica e do delírio báquico. No filme de Bressane - diferentemente, por exemplo, de 'Para além do bem e do mal', película da cineasta italiana Liliana Cavani -, o enlouquecimento de Nietzsche surge, não como um mal que tragicamente sobre ele se abate em virtude de uma vida de excessos, mas como um momento de apoteose, em virtude do qual o filósofo finalmente torna-se uma divindade, confundindo-se com Dioniso.
Finalmente, debatemos o filme 'Hannah Arendt', da cineasta alemã Margarethe von Trotta. Além do filme, o grupo leu o texto 'Martin Heidegger faz oitenta anos', de Arendt. Contamos, nessa discussão, com a presença do professor Vinícius Balestra, doutorando na UFMG e na USP. Trotta é feminista, e notabilizou-se por uma série de filmes cuidando da trajetória de mulheres emblemáticas. O filme sobre Arendt foca no caso Eichmann - quando a filósofa, a convite de uma revista norte-americana, viajou até Jerusalém, para acompanhar o julgamento de um ex-oficial nazista. A obra de Hannah Arendt - e o pensamento político ocidental, como um todo - foi profundamente impactado por Auschwitz. Como Arendt indica, após a ascensão do nazi-fascismo na Europa, as velhas categorias cunhadas pelas teorias políticas modernas tornaram-se obsoletas. É a partir da experiência do "totalitarismo" (conceito polêmico desenvolvido por Arendt para descrever o nazismo, o stalinismo e o maoismo) que uma nova filosofia política se desenvolve. O filme de Trotta acompanha o esforço de Arendt para refletir sobre essa nova realidade, e o processo através da qual a autora desenvolve a noção de 'banalidade do mal'.
2º MÓDULO
3 de junho - 'Morro dos Prazeres', de Maria Augusta Ramos - juntamente com o texto 'Reforma carcerária ou abolição da prisão?', de Angela Davis
10 de junho - 'Filhos da Esperança', de Alfonso Cuarón - juntamente com o texto 'É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo', de Mark Fisher (PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DE VICTOR MARQUES)
17 de junho - 'Arquitetura da destruição', de Peter Cohen - juntamente com o texto 'Fascinante fascismo', de Susan Sontag
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